segunda-feira, 20 de novembro de 2017

COLEÇÃO CONTOS DO SIARÁ

A Coleção Contos do Siará possui tres revistas : 1- A BANDEIRA DE PERO COELHO; 2- ÀS MARGENS DO RIO SIARÁ e 3- SECA, O ÚLTIMO INIMIGO.

Em breve mais um episódio: 4-A EXPEDIÇÃO JESUÍTA


segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Contando os Contos.


Todas as formas de arte que eu tenho aprendido e praticado tem sua importância
na minha vida, mas a de escrever e desenhar histórias em Quadrinhos tem sido a única
que eu compreendi ser o meio mais eficaz de transmitir algum real valor para o povo.

Desde muito novo, com oito ou dez anos de idade, comecei a fazer desenhos que contam
alguma história; fazia revistinhas e vendia no colégio, depois com 18 anos conheci
vários desenhistas amadores e me reunia com eles para desenhar; mas, não havia muita
criação real, como todos os desenhistas desse nível fazíamos aquilo que assistíamos
na televisão: heróis. Não havia nada comprometido com a realidade em que vivíamos
apenas reflexo de outros mundos, lendários, fantasiosos e sensuais.

Depois descobri o Mercado por trás de toda aquela produção norte americana e me senti
incapaz de participar, por que teria que me encaixar em um padrão e, infelizmente,
eu sempre fui um cara difícil de aceitar molduras externas.

Então veio o tempo de pertubação espiritual pela qual me converti ao cristianismo
pentecostal e quase me afastei por completo do desenho criativo. Passei a trabalhar
com desenhos e pinturas comerciais. veio casamento, filhos, trabalho, igreja, trabalho...

Ao romper de novos dias de leituras, buscas filosóficas e epistemológicas, de gnosticismo
e ateísmo, finalmente comecei a escrever alguma coisa. Até que vencido pelo cansaço  da busca
voltei minha atenção para autores nacionais, comecei a ler e reler tudo de autores brasileiros
e portugueses, comecei a estudar inglês e espanhol. Com o tempo da internet e de um mercado
mais livre, o mercado de produção autoral, voltei à prancheta, enquanto ingressava na
arte da tatuagem.  

  E foi então que, durante uma breve tentativa de criar e produzir um personagem brasileiro
ainda no universo dos heróis, o Vigilante Urbano, me veio a idéia de escrever e desenhar a história
Colonial do Brasil; foi então que me dediquei a ler e conhecer sobre o meu povo, o brasileiro,
depois fui mais próximo de mim mesmo e pesquisei a história do Ceará.

Comprei muitos livros, visitei Museu, Institutos, Universidades, Bibliotecas e achei
a matéria prima: a Importância do Ceará na história do Brasil.

Continuei lendo e relendo, passei a pesquisar imagens dos grandes pintores que vieram para o Brasil
e retrataram nossa fauna e flora, nosso povo e sua miscigenação; comecei a desenhar, desenhos de índios, africanos, portugueses, franceses.
 Até que finalmente produzi o primeiro material, a história da colonização do Siará.


Em 2013 terminei a obra, mas depois fui refazendo, pois à medida que trabalhava minha arte ia se
desenvolvendo. E também novas descobertas iam surgindo, novos desafios, tive que estudar um pouco de tupi-guaraní, tive que ler e reler José de Alencar, Gonçalves Dias, Standen, Capristano, Gustavo Barroso, Barão de Studart, Diogo Moreno, Padre Figueira, autores antigos, autores atuais, às vezes me perdia nas questões modernas envolvendo demarcação de terras indígenas, religiões africanas, cristianismo português. 
Tive que me esforçar para criar uma narrativa livre de ideologias progressistas e conservadoras.
Tive que me esforçar muito para produzir uma arte digna da narração; uma arte natural e sem apelos
estéticos modernos para ilustrar uma narração livre de estereótipos e paradigmas.

Enquanto produzia apresentava e divulgava o trabalho a fim de obter ajuda para sua publicação.
foi então que me deparei com a crua realidade de que a nossa história não é tão valorizada pelo
nosso povo. 
Não há tanto orgulho nacional como se possa imaginar em um país gigante, que tem uma brilhante
 hegemonia geográfica e histórica, que se manteve e se mantém unida no meio de uma america latina desfacelada.

E essa hegemonia não poderia ter sido possível sem a participação do cearense, do povo que vivia no Siará e que valorosamente, de um jeito ou de outro resistiu à oferta francesa de se tornar um país à parte, o Estado do Maranhão, separado do restante do Brasil.
 Em meio a dificuldades extremas de locomoção e comunicação, à revalia de seus donatários e governantes ambiciosos que não viam valor algum numa terra que não tinha ouro, repleta de tribos tapuias, que se matavam entre si, e estavam cada vez mais se concentrando no sertão nordestino à medida que eram expulsos do litoral que se transformavam em capitanias portuguesas com suas cruzes e espadas.

Mas há muita gente que vê na valorização de nossa história a valorização de nosso povo.
E em alguma parte do Brasil alguém toma conhecimento de nosso trabalho ‘’Contos do Siará’’ e procura adquirir essa obra para ler e conhecer por que alguém produziria um material desse numa época dessa.

A primeira resposta, a minha resposta, amigo, é que só assim eu me sinto realizado como artista, por ter produzido alguma coisa importante para mim, para meus filhos e para a minha gente.

As outras respostas serão a sua resposta para si mesmo, para o valor que você dar à sua própria história como cearense, como brasileiro.

Contos do Siará é só o começo, ainda há muitas histórias para ser contada.





                                                                                   Ednardo Nogueira